Discurso nos 70 anos da Biblioteca da Nazaré
(2 Abril de 2009)
Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora…
Do nada que nos surge e nos devora…
Ary dos Santos
Com a Biblioteca partilhámos / partilhamos amores, amizades, lutas…impaciências. Com a Biblioteca edificamos sonhos, reconstruindo a forma da palavra cultura. Cultura entendida no seu todo, Cultura entendida como a forma mais livre da liberdade e da emancipação herdada dos valores de Abril…
Ao longo dos seus 70 anos a Biblioteca da Nazaré construiu a sua história. Forjou-se com a vontade indomável dos seus fundadores, dos inúmeros colaboradores que ao longo dos tempos fizeram do presente um lugar chamado futuro. Recordo aqui o Dr. José Maria Carvalho Jr. e o escritor Branquinho da Fonseca, parteiros do que somos hoje…recordo também a presença amiga do arquitecto Tó Lança para quem nem a imensa distância geográfica o separou da sua Biblioteca. Recordo aqui todos os que fizeram da sua história pessoal grande parte da História Colectiva que celebramos hoje aqui.
Em muitos oceanos mergulhou a nossa colectividade…irmã insubmissa que em tudo tocou, pelo que é indissociável do percurso da nossa localidade. Fraternizada com os valores da modernidade e do progresso agarrou o livro como amor primeiro. Amou mais longe e fez do seu caminhar a pintura, o teatro, a alfabetização, a fotografia, a Feira do Livro, o Cinema, a música, a política no seu sentido mais generoso… A todas as crises sobreviveu, a todos os anátemas e ataques praticados por diminuídos intelectuais respondeu com a sua fidelidade ao espírito da convivência democrática e independência de ideias, uma forma de estar progressista que perdura.
Por nossa parte não iremos fugir ao futuro nem esperar pacientemente que ele aconteça. Se deixarmos o mundo entregue a si próprio ele não irá automaticamente ficar melhor. Importa neste ano de comemorações discutir o que queremos para a Biblioteca. Garantida a sua sobrevivência importa ampliar novamente as suas áreas de intervenção, divulgar a grandiosidade do seu património, das suas iniciativas. Garantida a sua sobrevivência importa agregar o conjunto dos seus sócios e simpatizantes e intervir em conjunto na nossa sociedade, combatendo a apatia e o obscurantismo.
O protocolo de cedência de instalações que assinamos aqui com o poder local, apesar da sua importância no aliviar do estrangulamento espacial que sofríamos, não pode ser entendido como uma panaceia, como um fim em si mesmo. Ele deve ser entendido como um ponto de partida para um melhor serviço para todos os que procuram as nossas instalações. Ele deve ser entendido como mais um espaço a explorar por todos no sentido de levar a cultura a todas as casas, a todas as ruas.
É com grande alegria que assinalamos os 70 anos na companhia de tantos amigos. Não sei o que nos reservam os próximos 70, contudo, observando todo este capital histórico e patrimonial, observando esta herança que se constrói todos os dias, faço minhas as palavras do Tó Lança:
- É bom vivê-la.
Alexandre Isaac
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