24 de abril de 2012

Abril Cravos Mil - Salgueiro Maia




Salgueiro Maia

Ficaste na pureza inicial
do gesto que liberta e se desprende
havia em ti o símbolo e o sinal
havia em ti o herói que não se rende.


Outros jogaram o jogo viciado
para ti nem poder nem a sua regra
conquistador do sonho inconquistado
havia em ti o herói que não se integra.


Por isso ficarás como quem vem
dar outro rosto ao rosto da cidade
Diz-se o teu nome e sais de Santarém
trazendo a espada e a flor da liberdade.

Manuel Alegre

21 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Poemarma de Manuel Alegre

Poemarma, de Manuel Alegre
Operário em Construção, 
Voz de Mário Viegas, Música Original de Luís Cília

Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas. 
Que seja um autocarro em forma de poema. 

Que o poema cante no cimo das chaminés 
que se levante e faça o pino em cada praça 
que diga quem eu sou e quem tu és 
que não seja só mais um que passa.

Que o poema esprema a gema do seu tema 
e seja apenas um teorema com dois braços. 
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.

Que o poema corra salte pule 
que seja pulga e faça cócegas ao burguês 
que o poema se vista subversivo de ganga azul 
e vá explicar numa parede alguns porquês

Que o poema se meta nos anúncios das cidades 
que seja seta sinalização radar 
que o poema cante em todas as idades 
(que lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.

Que o poema seja microfone e fale 
uma noite destas de repente às três e tal 
para que a lua estoire e o sono estale 
e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida. 
Que participe. Comunique. E destrua 
para sempre a distância entre a arte e a vida. 
Que salte do papel para a página da rua
.
Que seja experimentado muito mais que experimental 
que tenha ideias sim mas também pernas 
E até se partir uma não faz mal: 
antes de muletas que de asas eternas . 

Que o poema fique. E que ficando se aplique 
A não criar barriga a não usar chinelos. 
Que o poema seja um novo Infante Henrique 
Voltado para dentro. E sem castelos.

Que o poema vista de domingo cada dia 
e atire foguetes para dentro do quotidiano. 
Que o poema vista a prosa de poesia 
ao menos uma vez em cada ano. 

Que o poema faça um poeta de cada 
funcionário já farto de funcionar. 
Ah que de novo acorde no lusíada 
a saudade do novo o desejo de achar.

Que o poema diga o que é preciso 
que chegue disfarçado ao pé de ti 
e aponte a terra que tu pisas e eu piso. 
E que o poema diga: o longe é aqui. 

15 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Cantar Alentejano


Um poema de Jose Afonso, “ilustro-animado-analogicamente”,

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

13 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Linha Vermelha

Linha Vermelha recua a 1975, altura em que o alemão Thomas Harlan realiza o documentário Torre Bela, sobre a ocupação de uma grande herdade no Ribatejo, propriedade dos duques de Lafões. Este filme transformou-se num ícone do período revolucionário português: a discussão sobre a quem pertence uma enxada da cooperativa, a ocupação do palácio, o encontro com os militares em Lisboa e o processo de formação de uma nova comunidade… 37 anos depois, José Filipe Costa revisita esse filme emblemático, reencontrando os seus protagonistas e a sua equipa. Qual foi o impacto da presença da câmara sobre os acontecimentos? Que recordações guardam os protagonistas da ocupação? Que influência tem hoje o filme sobre a memória dessa experiência? Os mitos e a revolução são revistos por Linha Vermelha, que mostra como Torre Bela continua a marcar a história de um período conturbado do país.

"A questão central de "Linha Vermelha" não é: "Como é que o cinema mostrou os acontecimentos de Torre Bela?". A questão central é fundamentalmente diferente. A saber: "Como é que o cinema participou nos acontecimentos de Torre Bela?" Na prática, decompõe-se aqui qualquer ilusão "descritiva" do próprio cinema: o filme "Torre Bela" foi parte activa de tudo aquilo que se viveu em Torre Bela.

Os resultados deixam-nos uma curiosa sensação: revisitar as memórias dos filmes é, de uma só vez, reler as suas significações e repô-los no labirinto da história que integraram. "Linha Vermelha" contraria qualquer visão pitoresca (logo, televisiva) dos tempos quentes do 25 de Abril, lembrando-nos como é importante não aceitar a redução desses tempos a uma qualquer caricatura, seja ela ideológica ou moral. Afinal, foram homens e mulheres que, realmente, viveram os acontecimentos. Realmente e, por vezes, cinematograficamente." (João Lopes)


                                                                               


12 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Zeca e Adriano



Ficha Técnica "AMIGOS MAIORES": Animação criada por Rogério Ribeiro a partir do logótipo criado pela CulturePrint para o projecto "Amigos maiores que o pensamento".

Fotos retiradas de https://amigosmaioresqueopensamento.wordpress.com
Música (extractos): "Trova do vento que passa" -
Adriano Correia de Oliveira "Traz outro amigo também" - José Afonso

11 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - O Homem é Livre quando Quer

Em Abril Cravos Mil - Adriano Correia de Oliveira




Nascido no Porto e criado em Avintes, Adriano chegou a Coimbra em Outubro de 1959 para frequentar o curso de Direito, com apenas 17 anos, num tempo de agitação social propícia a impulsos e à mudança. Anos antes, a década de 50 – no pós-guerra – , tinha sido uma época marcada por fortes repressões. Só o movimento das eleições presidenciais de Humberto Delgado (em 1958) viria a ser “uma espécie de lufada de ar fresco”. Agora, “o país parecia mobilizar-se em toda a sua extensão, as pessoas tinham perdido um pouco o receio de falar”, recorda Louzã Henriques. Nessa altura começa também a surgir “um certo tipo de música, com as baladas, um certo tipo de leitura e de arte, factores que vão ter influência na forma de pensar o mundo”. E tudo isso chegou a Coimbra...
Na cidade dos estudante de então, o fado vivia uma época de mudança, com o contributo de cantores como Edmundo Bettencourt (fundador da Presença e que se tornou lendário como compositor e intérprete da canção de Coimbra) ou Artur Paredes. Mas Adriano “bebeu” outras influências graças uma geração de ouro: a de Fernando Machado Soares, que encetou a renovação do fado de Coimbra. “Havia um movimento de ideias muito intenso e profundamente dinâmico, propício à mudança”, refere o etnólo.
Em 1959, o então estudante de Direito inscreveu-se como primeiro-tenor no Orfeão Académico e, inevitavelmente, juntou-se às vozes do fado de Coimbra. A Academia e a cidade proporcionavam a Adriano novos horizontes intelectuais. Aí entrou em contacto com os problemas da sua geração, que eram os problemas de uma juventude em rota de colisão com o regime. Na década de 60 participou também no Grupo Universitário de Danças Regionais da Associação Académica de Coimbra e no CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, onde representou várias peças.
Viveu, primeiro, numa residência de estudantes. No ano lectivo de 61/62 transferiu-se para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, voltando para a Universidade de Coimbra no ano seguinte. Passou então a viver na república Rás-Te-Parta que, em 1963 serviu de sede de candidatura à unidade democrática, concorrente para as eleições da Associação Académica patrocinada pelo Conselho das Repúblicas.
“Nessa época, as repúblicas eram “templos” de uma certa boémia tertulial. Ali chegavam as influências que corriam no mundo e as que ainda estariam nas próprias tensões criadas pelo ambiente político de Portugal. Discutia-se com grande à vontade”, recorda Louzã Henriques. “As repúblicas, os cafés e a própria organização associativa, neste caso concreto a associação académica, forneciam um campo de experiências, ao nível das artes, ao nível da afirmação de direitos, ao nível da afirmação da posição da academia em relação ao poder, o que começava a representar uma agitação de ordem intelectual”, relata.
Entre 1960 e 1980 Adriano gravou 90 títulos, deixando uma das obras musicais mais ricas da segunda metade do século.
Tal como outros músicos em Portugal ou no exílio, também Adriano Correia de Oliveira fez da música um acto de intervenção. A “Trova do Vento que Passa” , escrita por Manuel Alegre e por ele cantada, constituem uma referência ímpar das músicas de intervenção em Portugal contra o regime fascista e um hino do movimento estudantil.
Quando lhe faltava uma cadeira para terminar o curso de Direito, Adriano trocou Coimbra por Lisboa, trabalhou no Gabinete de Imprensa da Feira Industrial de Lisboa (FIL) e foi produtor da Editora Orfeu.
Na fase final da sua vida – Adriano viria a falecer a 16 de Outubro de 1982, com 40 anos, em Avintes vitimado por uma hemorragia esofágica – foi acompanhado à guitarra por Paulo Vaz de Carvalho (hoje docente da licenciatura em Ensino da Música na Universidade de Aveiro), que teve um papel fundamental nessa época. “Era muito rigoroso e um excelente artista e amigo”, lembra o médico.
Adriano nunca deixou Coimbra e, das muitas vezes que regressou, ficou hospedado em casa do seu amigo Louzã Henriques. O médico, que esteve quatro anos preso em Peniche por oposição ao regime, não acompanhou a vida académica de Adriano, mas a amizade, que nasceria naos mais tarde, permaneceu até ao fim dos seus dias. Hoje, quando fala do companheiro de luta e de sonhos, Louzã Henriques não esconde a saudade.
“Para a altura em que ele cantou certas coisas, foi um homem valente. Cantou coisas em que se afirmava, num tempo em que a repressão era muito violenta”, lembra o médico. Todavia, “encarou isso sempre com grande coragem, com grande postura. Não era um homem de inocências políticas. Era um homem que sabia perfeitamente o que queria e por que lutava. Nasceu para ser livre e para ser artista”.

4 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Década de Salomé




Vai terminar esta prosa 
Estamos na década de Salomé 
Será o Apocalipse ou a torneira 
a pingar no bidé? 

É meio dia dia de feira 
mensal em Vila Nogueira 
Estamos na década do bricolage 
Diz o jornal que um emigra 
morreu afogado em Mira 
Antes da data 
Do mariage 

Estamos na Europa 
civilizada 
já cá faltava 
uma maison 
pour la patrie 
p´lo Volkswagen 
acabou-se a forragem 
viva o patron! 

Já tem destino esta terra 
vamos mudar para o marché aux puces 
o tempo das ceroilas está no fio 
agora só de trousses. 

É meio dia dia de feira 
mensal em Vila Nogueira 
Estamos na década do bricolage 
Diz o jornal que um emigra 
morreu afogado em Mira 
Antes da data 
Do mariage. 

Saem quarenta mil ovos moles 
Vilar Formoso 
é logo ali 
faz-se um enxerto 
com mijo de gato 
Sola de sapato 
voilá Paris! 

Aos grandes supermercados 
chega cultura num bi-camion 
Camões e Eça vendem-se enlatados 
lavados com «champon» 

É meio dia dia de feira 
mensal em Vila Nogueira 
Estamos na década do bricolage 
Diz o jornal que um emigra 
morreu afogado em Mira 
Antes da data 
Do mariage 

Estamos na Europa 
radarizada 
já cá faltava 
uma turquês 
para o controle 
do bravo e do manso 
vivaço e do tanso 
em cada mês! 

A fina flor do entulho 
largou o pêlo ganhou verniz 
Será o Christian Dior o manajeiro 
a mandar no país? 

Estamos da Europa 
do «estou-me nas tintas» 
nada de colectivismos 
chacun por si, meu 
e chacun por soi 
tê vê e cama 
depois da esgaça 
até que lhes dê a traça 
a culpa é toda 
do erre Hagá. 

Levam-te à caça 
dos gambuzinos 
com dois ouriços 
em cada mão 
ai velha fibra 
do bairro de Alfama 
a carcaça do Gama 
vai a leilão!

3 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Soneto à Liberdade

LIBERDADE
Liberdade onde estás? Quem te demora?
Que faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque foste de mim!, porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
  
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia
Oh!, Venha... Oh! Venha, e trémula descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! acode ao mortal que, frio e mudo
Oculta o  pátrio amor, fora a vontade
E um fingir, por temor empenha estudo.
  
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

 Manuel Maria B. du Bocage


Convocatória de Assembleia-Geral


CONVOCATÓRIA


Assembleia-Geral


De acordo com o preceituado nos Estatutos e Regulamento Interno da Biblioteca da Nazaré, convoco todos os associados para uma Assembleia-Geral ordinária, a realizar no próximo dia 6 de Abril de 2012 pelas 21 horas na sua sede social.

ORDEM DE TRABALHOS

Ponto – 1: Informações.
Ponto – 2: Aprovação do Relatório de Contas do exercício do ano 2011.


Nota: Se à hora marcada não estiverem presentes 50% dos sócios, de acordo com as normas estatutárias, a Assembleia funcionará 30 minutos depois, com qualquer número de sócios presentes.

A participação dos sócios nesta Assembleia é importante para a vida da nossa Biblioteca, pelo que apelamos à sua presença.