18 de abril de 2011

Cravos de Abril - Como se viveu o 25 de Abril na Biblioteca da Nazaré

Como se viveu o 25 de Abril 
na Biblioteca da Nazaré
Testemunho de Norberto Vila Verde Isaac*
Nazaré - Manifestação no 1º Maio de 1974 - Arquivo da Biblioteca da Nazaré

Dentro de dias estaremos, uma vez mais, a comemorar o 25 de Abril. Vamos fazê-lo num quadro de grandes sacrifícios que estão a impor ao povo português, pelo que sobram as razões para o fazermos em festa, mas dando um forte sinal da revolta que vai dentro de nós pela situação que nos criaram.
A Biblioteca da Nazaré, não é novidade, tem uma relação de cumplicidade com o 25 de Abril desde a primeira hora. Nenhuma outra colectividade, na Nazaré, se empenhou e envolveu na luta pela concretização dos ideais de Abril com o fez a Biblioteca. Àquela data a sua direcção era formada por gente bastante jovem, unida em torno de um objectivo: lutar no plano da cultura contra o regime opressor de Marcelo Caetano. Com o precipitar do 25 de Abril, essa geração de dirigentes não deu por concluídos os seus objectivos e empenhou-se generosamente na luta pela democratização, no plano cultural, social e político.
No plano cultural, viveram-se tempos de intensa actividade, realizou-se a 1ª feira do livro, realizaram-se espectáculos de canto livre, com a participação de cantores como José Mário Branco; Tino Flores e outros cantores populares. Foram também tempos de dar a conhecer filmes até então proibidos pelo fascismo. Organizaram-se campanhas de alfabetização. Organizaram-se espectáculos de Teatro Popular, etc.
No plano social e político, os dias eram pequenos para tanta intervenção e solicitação. Da Biblioteca se partiu para a organização do 1º de Maio de 1974, porventura a maior manifestação alguma vez realizada na Nazaré. Da Biblioteca surgiu um movimento de intervenção denominado Comissão Democrática da Nazaré – CDN, que dinamizou a luta política pela democratização das diversas instituições do poder local.
Em todas as acções a Biblioteca escolheu sempre um lado, o dos mais desprotegidos e o dos mais ofendidos e perseguidos pelo regime deposto. A coerência destas opções teve contrapartidas diferentes, o respeito de uns e o ódio de outros.
Passados todos estes anos ainda assim é, sinal que o caminho trilhado pelas várias gerações de dirigentes da Biblioteca continua a ser o da coerência. Temos todos consciência que não optámos pelo mais fácil, mas tem sido esta inquietação constante, que a tem mantido, apesar de tudo, com grande vitalidade.  
A Biblioteca da Nazaré, como sempre acontece, irá abrir as suas portas e janelas para que a brisa de Abril possa penetrar e renovar as energias daqueles que por lá passarem, para poderem enfrentar melhor os tempos difíceis que aí estão.

* Dirigente da Biblioteca da Nazaré, encontrava-se preso em 25 de Abril de 1974 na prisão  de Caxias, pelo delito de "actividades políticas" .

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