2 de abril de 2011

72º Aniversário da Biblioteca da Nazaré


 

No septuagésimo segundo aniversário da Biblioteca recordamos um texto, escrito pelo António Lança no quinquagésimo aniversário da nossa colectividade,  que consideramos ainda muito actual e portador do projecto que ainda hoje construímos... e continuaremos a construir.
  


 "O Cinquentenário da Biblioteca da Nazaré"

A Biblioteca tem 50 anos.
Tem assim passado. Tem assim presente.
O quê e quem os não tem?
É diferente a Biblioteca antiga da actual.
O quê e quem o não é? Tempos outros, pessoas outras.
Mas uma coisa, muitas coisas, fizeram - fazem da Biblioteca uma só forma, um só conjunto, um sempre todo.
E não será assim?
Não é que foi - é a Biblioteca da Nazaré sempre um lugar de cultura, uma riqueza de conteúdo, uma comunicação de literatura, uma perspectiva da arte na vida, uma inovação de conhecimentos, um gosto de encontro, um gesto de frescura, uma presença de remos contra marés, um direito de diferença, uma individualização própria, uma independência, um estar progressista de pessoas, de ideias e de factos desde 1939.
Por mais voltas de mar que houve – há, é esta a imagem que me fica sempre da Biblioteca, o seu sempre todo.
E o futuro?
O futuro é hoje, ou de outra mesma maneira, é a constante sempre e só de momentos presentes.
Estes momentos lá está a Biblioteca a fazê-los, a vivê-los e a intregrá-los hoje no que sempre foi - é. 

Todo o processo – evolução da Biblioteca merecia ser bem analisado, elaborado, passado a escrita e em seguida dado à divulgação, não só para um melhor reconhecimento do lugar e actuação realizada na Nazaré, como também em homenagem ao seu criador, o Dr.  Carvalho, e ainda como reconhecimento do seu próprio património.
Pessoas há na Nazaré que sabem executar este trabalho, quer antigos elementos, de quase dos princípios da Biblioteca, quer agora também por jovens estudiosos e investigadores.
Neste boletim, a comemorar os 50 anos, vai um conjunto de testemunhos de pessoas que passaram pela Biblioteca com maior ou menor duração, daí que, pessoalmente, vá tentar alinhar mais algumas palavras e ideias sobre ela.
Assim bem por dentro da Biblioteca foram, mais ou menos, meia dúzia de anos integrado numa comissão de sócios que a dirigia, dado não haver direcção eleita e as tentativas para o realizar não terem surtido efeito.
Foi de certo modo um período difícil e de transição entre a fase imediatamente anterior e posterior ao 25 de Abril e a fase dos anos 80 e pouco até hoje.

A primeira fase foi marcada pelas profundas alterações e motivações pessoais e colectivas do momento, em que a Biblioteca digamos que mais "estável" teve também naturalmente que ser mais "instável" mas em que até foi mais enriquecedora de vivência e de transmissão de cultura.

A segunda, o retomar da "normalidade", agora num sentido mais activo e evoluído, mais amadurecido de ideias e de realizações de actividades culturais como hoje se verifica.
Aqueles anos, entre estas duas fases, diria que foram os do "aguentar" e o de evitar que a Biblioteca por qualquer motivo se apagasse, o que nunca jamais poderia acontecer.
Foi tempo de acertos e desacertos, de coisas feitas e por fazer.
Já nem me lembro de tudo: aquela dificuldade da abertura e dos horários, a pouca utilização e requisição de leitura, pouca cotização, a falta de massas (a dor de cabeça da renda, da água, da luz, da limpeza, que o diga o Eduardo), havia um só subsidio de cinco contos anuais(!) que a Câmara dava para a Biblioteca-Cultura, a necessidade da actualização por meio de aquisição de novos livros, de realizar encadernações para o rico património existente, de material para as instalações, etc. etc.

Mas também foi tempo de levar parcialmente a Biblioteca para o sul da Nazaré para se abrir a mais sócios a maior comunicação, de realizar o ritual anual da Feira do Livro, válida por si e salvadora das despesas de todos os meses e da aquisição mais em conta de novos livros, de fazer algumas poucas realizações em paralelo com a Feira, mas só enquanto durou o Operário Marítimo, de realizar com boa participação e razoável duração os cursos de analfabetismo, de desenho de projectos de arquitectura e engenharia, de teatro feito no Chaby Pinheiro, de se ter feito aquela festa mesmo linda de uma praça cheia de miúdos, de telas e de tintas de todas as cores e mais uma, daquilo que se foi podendo fazer, integrados na comissão gestora do Chaby Pinheiro, de estarmos nos primeiros de Maio e nos vinte cinco de Abril, dos contactos mantidos com o FAOJ, dos colóquios e exposições em participação com o Operário Marítimo, etc.

Também foi tempo de alarmes para que a Biblioteca não fosse parar aonde não queríamos que o fosse, como foi o caso, que recusámos a pés juntos, de uma fusão - desaparecimento da Biblioteca da Nazaré num hipotética biblioteca municipal, conforme intenção e proposta da câmara municipal da altura, seria a perda daquela individualização própria e independência dum presente sempre que vem de 1939.

Tanta e tão pouca coisa que pedia, para lá deste enunciado de factos, uma análise e perspectiva critica bem precisa e fundamentada. Uma coisa é certa, é que outros e mais outros testemunhos, todos juntos, darão uma melhor imagem da Biblioteca da Nazaré.

E só mais uma coisa certa.
É que foi-é bom vivê-la.

António Manuel Lança Cordeiro

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